ATA DA VIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 03.09.1987.

 


Aos três dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Sétima Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear os oitenta anos de fundação do Jockey Club do Rio Grande do Sul. Às dezesseis horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Paulo Cesar Sampaio de Oliveira, Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul; Dr. Armando Hofmeister, Presidente da Associação Brasileira de Cavalos de Corrida; Sr. Fernando Schneider; Sr. Olinto Stres; Sr. Antonio Demarchi Chula, Ex-Presidentes do Jockey Club do Rio Grande do Sul; Ver. Frederico Barbosa, 2º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Flávio Coulon, em nome do PMDB, PDS e PCB e como proponente da presente homenagem, fez um breve relato histórico do Jockey Club do Rio Grande do Sul, desde sua fundação em 1907, com o nome de Proctetora do Turf, até o momento atual. Leu a Ata da 1ª Sessão Preparatória daquele Clube. Ao final congratulou-se com todo o Quadro Administrativo e Social do mesmo pela data de hoje. O Ver. Werner Becker, em nome do PSB, falou de sua satisfação em participar da presente homenagem, tendo em vista os agradáveis momentos que aquele Clube lhe proporcionou. Destacou a importância social do Jockey Club do Rio Grande do Sul bem como o grande número de empregos que gera. O Ver. Jaques Machado, em nome do PDT falou da justeza da presente homenagem, discorrendo sobre fatos e personalidades que marcaram época no Jockey Club do Rio Grande do Sul e no turfe da nossa Cidade, discorrendo sobre personagens marcantes que fizeram parte da galeria de nomes daquele Clube. O Ver. Artur Zanella, em nome das Bancadas do PFL e PL, comentou de sua satisfação em prestar homenagem ao Jockey Club do Rio Grande do Sul, na presente Sessão Solene, a qual gostaria de ter proposto. Relembro vários fatos e nomes daquela entidade, salientando, que no assessoramento do mesmo encontram-se os nomes mais expressivos da elite do Rio Grande do Sul. A seguir o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Paulo Cesar Sampaio de Oliveira, Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento o Sr. Presidente proferiu pronunciamento ao ensejo do encerramento da presente Sessão Solene, convidou os presentes à passarem a Sala da Presidência, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental e levantou os trabalhos às dezessete horas e quarenta e quatro minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Frederico Barbosa. Do que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada será assinada pelo Sr. Presidente e 1ª Secretária.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Flávio Coulon, que falará em nome das Bancadas do PMDB, PDS, PT e PCB.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Minhas Senhoras e meus Senhores, cabe-me, como Vereador proponente desta Sessão Solene, apresentar um breve histórico da brilhante trajetória do Jockey Club do Rio Grande do Sul quer como elemento esportivo, quer como cultural, econômico, turístico e social em nosso Estado. E, ao apresentar esse histórico, não posso deixar de citar, por dever de justiça, que tenho como parceiro, nessa empreitada, a figura respeitada e admirada de Nestor de Magalhães, turfista que é, reconhecidamente, a própria história de nossas corridas de cavalos, de quem copiei as seguintes informações.

“Época houve em que Porto Alegre, ainda cidade pequena e tranqüila com seus 100 mil habitantes, dispunha de quatro hipódromos. Findava, então, o século XIX e entrava-se no novo. Promovendo corridas alternadamente, as entidades desdobravam seus programas semanais no chamado Prado Rio-Grandense, que se localizava no bairro do Menino Deus, onde atualmente funciona um departamento da Secretaria da Agricultura, no Boa Vista, situado no Partenon, no Navegantes e nos Moinhos de Vento, o da Independência. O entusiasmo pelas carreiras era grande, e chegou-se a realizar três dias consecutivos de carreira, com movimentos compensadores em aposta. Entretanto, como as associações promotoras de corridas de outrora sobrepunham os lucros mercantis que obtinham à atividade desportiva e menos à criação do cavalo de corrida, não tardou surgirem atritos entre suas diretorias.

O turfe porto-alegrense entrou, então, em completa decadência, o que levou à iniciativa de se fundirem numa só agremiação as quatro entidades existentes. Travou-se séria discussão antes que se escolhesse o hipódromo que serviria de sede desportiva para a sociedade que nascia. Predominou a sugestão para localizá-la no prado da Independência, onde, a partir de 1º de outubro de 1899, o Derby Club passou a realizar suas corridas. Entretanto, a novel sociedade teve duração efêmera, posto que elementos descontentes reabriram os hipódromos do Menino Deus, onde se organizou o Turfe Clube, e do Partenon, ambos oferecendo luta ao Derby Club. Aos poucos morreram todas as sociedades, e o hipismo porto-alegrense entrou novamente em declínio. Não se conformando com a situação, José Joaquim da Silva Azevedo, valoroso “turfman” da época, lamentavelmente esquecido na atualidade, tratou de organizar uma nova associação turfística, para o que recrutou elementos novos, de alta representação no meio social desportivo. Fundou-se então, a 7 de setembro de 1907, a Associação Protetora do Turfe, que a 3 de novembro do mesmo efetivava sua corrida inaugural”.

Para que fiquem nos Anais desta Casa, transcrevo a história ata da 1ª Sessão Preparatória, que merece não só o conhecimento de todos os turfistas como demonstra que, desde o instante inicial, o Jockey Club teve como preocupação primordial a lisura e a honestidade de suas atividades, traço marcante que o acompanha até hoje.

“Aos sete dias do mez de Setembro de 1907 reunidas diversas pessoas dedicadas ao Sport Hippico ficou resolvida a creação da “Associação Protectora do Turf” com o fim de unir elementos que pugnassem sériamente pelo engrandecimento do sport atualmente em crise bem diffícil. A nova associação será creada visando dividir entre jockeys, tratadores e inscriptores os lucros líquidos que forem apurados em suas festas sportivas e empenhará a maior severidade pela máxima moralidade em suas corridas e festas sportivas.

Considerando a anarchia reinante no citado sport ficou deliberado fazer-se quanto antes os estatutos e regulamentos da Associação e dar-lhes toda a publicidade para preparar o espírito dos interessados quanto à nova orientação que a corporação quer dar à situação do turf entre nós, pois é empenho geral fazer-se a aplicação da lei inexoravelmente, fira a quem ferir.

Por aclamação geral dos presentes ficou eleita a seguinte administração que dirigirá a Associação até 7 de setembro de 1908. Presidente: Oscar Canteiro; Vice-Presidente: Cap. Tte. Octavio de Lima e Silva; Secretário: José Olympio de Souza; Thesoureiro: Cyrillo Pezzani; Directores: Cap. Raul Amorim, André Kraemer, Fernando Brochado, Ignacio José da Silva, Elysio Feijó, Jacintho Bernardo Henrique, Henrique Gonçalves; Directores Geraes: Martins Minaberry Jrº.,  José Joaquim da Silva Azevedo, Alfredo de Mello e Costa; Conselho Fiscal: Edmundo Bastian, Dr. Sergio de Oliveira; Joaquim Rodrigues de Almeida.

Ficou resolvido fazer-se segunda reunião preparatória a 9 de outubro p.f. para o que serão convidados os sócios e interessados que se queiram inscrever na Associação.

Porto Alegre, 7 de setembro de 1907.

Em tempo: A Diretoria resolve considerar fundadores todos os sócios que pagarem logo o trimestre de Outubro-Novembro/Dezembro.”

A Diretoria da novel Associação Protetora do Turfe levantou o desporto das rédeas na capital. Mas, passados tempos, a entidade entrou em crime e teve de ser reorganizada. Coube ao Cel. Antônio Pedro Caminha, considerado o consolidador do turfe porto-alegrense, a tarefa de soerguer a entidade. E o conseguiu durante sua administração que se estendeu de 1909 a 1914, na qual se instituiu o GP Bento Gonçalves, assim como outras provas que até hoje se disputam no Hipódromo do Cristal.

À de Caminha, falecido em 1914, seguiram-se as gestões dos presidentes Carlos Drügg (1914/1915), Armando de Alencar (1916/1917), José I. Cunha Rasgado (1918/1921), Leonel Faro (1922/1924), Domingos da Costa Lino (1925), José I. Cunha Rasgado (1926/1927), Raul Bastian (1928/1929), Mário Morais (1930/1931), Domingos C. Lino(1932/1933), Leonel Faro (1934/1935), Raul Bastian (1936/1937), José Herculano Machado (1938/1939), Domingos C. Lino (1940), Antenor Granja de Abreu (1941) e Leonel Faro (1942/1943).

Em 1944, em assembléia geral dos associados especialmente convocada, mereceu aprovação a deliberação de permutar o antigo nome da Associação Protetora do Turfe pelo de Jockey Club do Rio Grande do Sul.

Já sob a égide da nova denominação, dirigiram os destinos da entidade os seguintes presidentes: Cneu Aranha 1944/1945), Naio Lopes de Almeida (1946/1949), Daniel Krieger (1950/1955), Vicente Marques Santiago (1956/1959), José Pinheiro Borba (1960/1961), Indemburgo de Lima e Silva (1962/1963), Fernando Jorge Schneider (1964/1967), Olinto B. Streb (1968/1973), Claudio Luiz Sperb (1974/1978) Antonio Demarchi Chula (1979/1980), Francisco Roberto Dall’Igna (1981/1982), Flavio José Gomes (1983/1984), e Paulo Cesar de Oliveira (1985 até o presente).

A 15 de novembro de 1959 o Velho Prado dos Moinhos de Vento encerrou suas atividades em definitivo e a 21 de novembro do mesmo ano passava a funcionar o novo Hipódromo do Cristal.

Feito este breve resumo histórico, mister se faz que façamos algumas referências a respeito da pujança econômica que gira em torno das atividades ligadas aos cavalos de corrida.

Temos, no Brasil, mais de 100.000 pessoas que, direta ou indiretamente, estão vinculadas ao puro sangue inglês; dessas, cerca de 35% vivem no Rio Grande do Sul onde se concentram cerca de 400 haras de criação de puro sangue inglês, alguns com prestígio internacional, e cerca de 23 hipódromos para corridas.

Em torno dessa atividade econômica gira todo um complexo agrícola-industrial que vai desde a cultura da aveia, milho, alfafa etc. até à produção de serragem, sais minerais, medicamentos, vermífugos, vacinas, artefatos de couro e metal etc.

Particularmente em Porto Alegre, temos ligados ao nosso Jockey Club nada menos que 1300 cavalos puro sangue pertencentes a quase duas centenas de proprietários, que absorvem o trabalho de cerca de 1000 pessoas, entre jóqueis, tratadores, cavalariços, escovadores etc.

Falei até agora de história e economia. Peço-lhes um pouco de mais paciência para que encerre falando de paixão.

A saga do povo rio-grandense foi escrita e moldada por figuras mitológicas onde se fundiam homem e cavalo, numa integração tão perfeita que, na devida escala, não se conseguia perceber onde começava um e terminava outro. Não existem dúvidas que vagam cavalgando por esse pampa rio-grandense os espíritos desses semi-deuses - e eu citaria Sepé Tiarajú como um exemplo deles - aspergindo, sobre cada gaúcho que nasce, o amor pela figura do cavalo. Ao longo de toda minha vida ainda não encontrei nenhum rio-grandense que não se emocione, que não se toque, que deixe de sentir uma vibração diferente quando se vê um cavalo; e muito menos quando vê um puro sangue inglês de corrida!

E, o que é o Jockey Club do Rio Grande do Sul dentro desse quadro apaixonado? É o aglutinador, é o catalisador, é a casa que transforma essa paixão pela emoção da disputa, pela expressão da estética, pela incerteza do resultado final, em amizade entre as pessoas.

Outra constatação absoluta: não existem pessoas sozinhas dentro do Jockey; sempre existe um amigo por perto para uma troca de palpites, para um comentário, para um bate-papo turfístico, de preferência... Essa, para mim, a característica mais marcante do Jockey: aglutinados pelo amor aos cavalos, os homens se reúnem para serem amigos e, em o fazendo, renovam a felicidade daqueles cavalgantes semi-deuses a que me referi anteriormente e tornam a vida de todos melhor.

Alguém pode medir o quanto de amizade e quanto de alegria entra na gente quando em torno de um churrasco na cocheira se reúnem o Foguinho Presidente, o Gordo Franco, o Mestre Armando, o Coruja Pedrinho, o Carioca Alfredo, o Trovejante Luizinho, o Tratador Marquinho, o Doutor Biduio, o Magrinho Marcantonio, o Judeu Westphalen, o Ministro Cirne, o Distribuidor Lélis e tantos outros  caros amigos?

Senhor Presidente Paulo Sampaio Oliveira: já me tardo, sei bem. Em nome da Bancada do PMDB, peço-lhe que leve a todo o corpo associativo, aos conselheiros, aos aficionados, aos funcionários, aos tratadores, jóqueis, cavalariços, ferreiros - enfim, a todos que giram em torno do Jockey Club do Rio Grande - os nossos cumprimentos pelo octogésimo aniversário da entidade e os nossos agradecimentos pelo que ela representa dentro do contexto social, esportivo, cultural e, sobretudo, afetivo de nosso Estado e, particularmente, de nossa Capital. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem de inscritos, com a palavra o Ver. Werner Becker, que falará em nome da Bancada do PSB.

 

O SR. WERNER BECKER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Convidados, avesso que sou às Sessões Solenes, talvez por uma congênita aversão ao formalismo das solenidades, participo desta Sessão com muita satisfação e também por dever de ofício de Vereador. A satisfação decorre de relembrar emocionantes momentos que o Jockey Club do Rio Grande do Sul proporcionou a mim gratuitamente, menino ainda, originário de uma família de classe média e pobre. Na minha retina embaçada, com bastante emoção, gravo ainda o abraço desesperado de despedida do Carlos Neto, o Netinho; do Astuto, um pouco antes do sacrifício após um Grande Prêmio Bento Gonçalves, mais precisamente de 1949. Foi ali, talvez, que tenha aprendido que chorar não é vergonha para um homem, que muitas vezes engrandece e enobrece.

De outra parte, gravo ainda as emoções que me proporcionavam os grandes duelos, lembro agora, Cravete e Carcel Major e Salomão e outros que a memória dos turfistas aqui presentes guarda, e que se repetem nos fins de semana no Cristal, hoje. Lembro-me, também, de um grande momento de solidariedade de classe, que talvez a alguns tenha passado despercebido, mas não aos que têm sensibilidade social, foi quando os companheiros de profissão cederam o Jockey, esses meninos, alguns, hoje, já de meia idade, cederam suas montarias, gratuitamente, para que um companheiro de profissão, Antonio Ricardo, pudesse receber o laurel de recordista brasileiro em vitórias. Difícil encontrar essa solidariedade de classe em outros segmentos da sociedade. Também aprendi, no Jockey Club.

E, me emociona, fundamentalmente, esse momento, porque se tenho aqui presente amigos, tenho ídolos. E, vejo aqui presente a tocada esperta e enérgica do Omar Batista, chegando muitas e muitas vezes com sucesso a frente do disco. Também, a devoção e o carinho de há muito, desde os meus tempos de guri, Nereu, que tratava, cuidava e acariciava seus cavalos. Seus! Porque se tinham outra propriedade, afetividade, maior, tenho certeza, era do, agora, velho Nereu. Pois, há oitenta anos, desde que foi fundada a Protetora do Turf, nome antigo do Jockey Club, lá, ainda é hoje o Parque de Exposições, depois, na 24 de Outubro, e agora, no Cristal o Jockey Club vem proporcionando esses momentos a todos os segmentos sociais. Por isso disse que ocupo esta tribuna também por dever de ofício. É necessário desfazer um preconceito. Aliás, é necessário que um dia sejam desfeitos todos os preconceitos. Se as algemas amarram o físico dos homens, os preconceitos amarram e agrilhoam as idéias. Mas vamos falar especificamente de um preconceito: que o Jockey Clube seja uma entidade de elite. Quem eu não vejo no Jockey Clube são as elites. Eu que freqüento o Jockey Club vejo os mais desafortunados, os mais desamparados, a classe média lá comparecer. Quem eu não vejo são as elites da fortuna e as elites pseudo-intelectuais que, com verdade dogmática, acham que é muito prosaico olhar a realidade e preferem as lições mal digeridas, recolhidas nas orelhas das leituras apressadas de um livro. Talvez o nome Jockey Club assuste aos superficiais. Talvez dizer que os chefes de raça do puro sangue Byelly Turk, Darley, Arabian e Godolphin Barb, era um passatempo dos ingleses. Mas vamos, também, impugnar o foot-ball, palavra inglesa, o penalty, o corner, foi implantada no Brasil pelo aristocrata Charles Miller. Mas será que o povo também não tem direito de usufruir o que os ricos usufruem? E, certamente, um dia, todos usufruirão as mesmas coisas. Não os senhores presentes, porque as informações que foram prestadas de forma copiosa e precisa pelo meu colega Flávio Coulon quase que me retiram qualquer coisa a acrescentar ao meu discurso. Não os preconceituosos, porque estes não estão interessados em receber informação nenhuma, mas aqueles que podem ser influenciados por aqueles que apregoam uma versão absolutamente errônea do Jockey Club. Vamos começar pelo mercado de trabalho do Jockey Club que emprega, diretamente, cerca de mil famílias, entre funcionários, jóqueis, cavalariços, escovadores, protegidos pela caixa beneficente dos funcionários. Instituição exemplar, cuja estrutura deveria ser conhecida por todos, e aplicada por muitos. Indiretamente, mais de dez mil pessoas, num universo que se completa por um multiplicador de quatro, teríamos dez mil famílias, ou seja, quarenta mil pessoas vivem da atividade econômica do Jockey Club, pois, além desses, que são empregados diretamente, temos os forrageiros, os transportadores, os empregados de haras, entre outros tantos. Os 90 hectares do Jockey Club, sendo que de 30 a 40 de área verde, são entregues cada fim de semana, gratuitamente, ao lazer da população. Só os que não conhecem o Jockey Club não sabem destas verdades - e desculpem se repito o óbvio. Aos ecologistas: talvez muitos não saibam que, graças ao Jockey Club, é preservada a maior reserva ecológica de Porto Alegre e uma das maiores do Rio Grande do Sul - 200 ha de mata “in natura”, habitada por várias espécies animais, que têm lá o seu “habitat” e lá a sua criação. É bom lembrar, também, que o cavalo, indispensável à lide do campo, recebe, na evolução científica da genética, muitos e muitos subsídios do Jockey Club, para que, a partir da evolução genética do puro sangue, o pêlo duro do interior possa ser um cavalo cada vez melhor, mais forte e mais adequado para as suas tarefas.

É este o Jockey Club que me dá a honra de homenageá-lo pelas suas presenças. Com extraordinária satisfação, e repito, por dever de ofício. Não me passou despercebida a presença do Paulo. Omiti a presença do Paulo porque não o saberia tratar como personalidade. É uma amizade grande, devotada, de algumas décadas - não vamos quantificá-las - mas não posso também, como Vereador da Cidade, dizer apenas que sou, além de amigo, e recebo provas muito constante de reciprocidade, seu admirador, embora a amizade seja tão grande que me seja obrigado a averbar a suspeição de tudo quanto disser a respeito do Paulo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Fala pelo PDT o Ver. Jaques Machado.

 

O SR. JAQUES MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais presentes, momento igual a este sempre é digno de grande satisfação, digo de grande satisfação porque hoje esta Casa presta uma das mais justas homenagens que eu já tive o prazer de participar, na condição de Vereador desta Casa. Fala-se da Sessão Solene em homenagem ao Jockey Club do RS, Jockey Club esse que bate fundo em nosso sentimento, nesse momento em que uso a palavra, em nome da bancada do PDT e também em nome do meu companheiro de grandes jornadas, o Ver. Aranha Filho, presente hoje aqui nesta Sessão, até adoentado, mas comparecendo a esta grande efeméride da Câmara Municipal, neste dia, que mais uma vez digo, homenageio o Jockey Club do Rio Grande do Sul. Não sei se começo o meu pronunciamento dizendo “Está mal aqui, seu Delfim!” Eram palavras que a gente, no tempo de guri, estudante do Colégio Rosário, eu morando no Quarto Distrito, na parte baixa da Cidade, atalhava a pé, subia a Dr. Timóteo, passava pela Churrascaria Santo Antônio, ia ao Hipódromo do Moinhos de Vento para ali ver grandes figuras, - hoje presentes aqui nesta Casa, - Figuras saudosas, outras figuras presentes. Então, poderia começar falando em Fernando Schneider, grande professor e amigo, não somente do Jockey Club, mas também da Cidade, Dr. Olinto Borba. Recordo-me que no tempo de menino ganhávamos lápis da Drogaria Brasil, que dizia “Quem mais barato vende melhor atende”. O nosso companheiro Paulo Sampaio, o Armando Hofmeister, irmão do nosso companheiro Mauro e Antonio Chula, juntamente com sua família, sempre participando do engrandecimento do nosso turfe. Então, recordo-me de passagens, naquele tempo saudoso do Moinhos de Vento, onde aprendi a respeitar e a conhecer verdadeiros profissionais do turfe. Figuras como a do meu avô, com prêmios hoje titulado de Consolação José Herculano Machado, meu pai, meus tios. E hoje pela manhã ainda recebi um telegrama de um tio meu que está radicado no Rio de Janeiro há muitos anos, Carlos Machado, que estava junto como Chico Recarrey dizendo “Jacão hoje tem uma homenagem ao Jockey Club e nós já soubemos aqui que vai ser homenageado o Jockey Club do Rio Grande do Sul na Câmara”, eu disse eu vou dar o recado e uma mensagem por eles.

Então, recordo-me de animais saudosos que ficaram e nos marcaram, nos gravaram em nossa retina e também em nossos ouvidos, ficaram ecoados aquelas grandes locuções do tempo de Souza Lobo, no tempo do Macedo, do Vergara, do Rubens de Oliveira e, hoje, Caio Juruá, enfim, o Mazeron, e tantos outros, que transmitem turfe. Lembro-me de animais como Salomão, lembro-me de animais como Cravete, Carcel, Astuto - como frisou Werner Becker - coisas que nos sensibilizaram e nos marcaram, que nos levaram até as lágrimas. O caso, também, do Avanês daquele que, inesperadamente, naquele dia em que eu matava a aula, ainda no padoque do Moinhos de Vento, vi o Avanês não contornar a curva da entrada da reta e entrar padoque a dentro e subir quase que um aclive que tinha arrebentado cerca e ai morreu Avanês do nosso Augusto Maria Sisson. Treinadores que conheci na época do Moinhos de Vento e muitos deles hoje saudosos, mas muitos, ainda que permanecem vivos como é o caso do Sr. Antão Farias do Estude Brasileiro. Conheci, também, Augustin Dias, ali, o D. Camilo, Gregório, seu Carlos Gasparini, seu Gandini, o Nêgo Rato. O Nego Rato até hoje recebido. Meu companheiro Ari Lima, um amigo. Também o Ari Lima que foi Vereador na Cidade de Bento Gonçalves, também companheiro de várias jornadas, hoje grande proprietário no Jockey Club, um presente que para mim é muito gratificante, dizendo que vai botar um ponto no meu nome, para colocar o nome de Nego Rato, porque já tem um com o nome de Nego Siloca.

Então, são coisas afetivas que a gente têm, laços de carinho dentro do nosso turfe. Os escovadores que permaneceram e que trabalhavam e que estão vivos, muitos deles. O caso do Paquetá, do Loco-Loco e do Nego Siloca que eu acabei de falar. Tinham, vendo hoje aqui presentes, jovens de verdadeiras munhecas, que passaram e que a gente aprendeu até torcer, dizendo, “Toca Galvão, toca Gigante”, assim como hoje esta nossa juventude diz, “Toca Batista, toca Eliseu Rodrigues, o Chinês”. Até no Jockey eu sou muito gratificado até porque ganhou o primeiro cavalo, deu Nego Siloca.

Então, têm jóqueis que marcaram época no tempo do Moinhos de Vento. Recordo-me da Avenida Armando Rosa, da Revista do Globo, que nós temos hoje aqui nos Arquivos da Câmara, Avenida Armando Rosa, ficou gravado. O Mário Oliveira, o Ganganeli Cunha, o Gigante, Leonel Pereira, o Armando Reyna, que cansava de dar partida para o Quartzo, eu que era guri observava: “deu, Quartzo”, largava Armando. Rui Gomes, Rossano, Edir Rocha, Francisco Xavier, Cardoso, Domingos Severino. E depois mudou a época das tocadas no prado. Fui quando entrou o Silmar Lobo, o Antônio Ricardo e Reinaldo Baratieri; saíam as joqueadas daquela estaticidade geocêntrica e lançava-se no universo heliocêntrico e turbulento, dinâmico de Copérnico. Foram aquelas tocadas do Antonio Ricardo: “tocando por dentro, tocando”, e pegava o nosso saudoso Francisco Xavier, “socando em cima”, o Ricardo ia por dentro e matava. Não tinha. São coisas saudosas do nosso turfe, Werner Becker. Recordo o Ricardo “baretando o Silmar Lobo”, depois este foi a São Paulo e ficou líder,  como também foi o caso do nosso Clóvis Dutra, a coisa mudou. É, assim como estamos falando em jóqueis saudosos e grandes tocadas, ali, aprendemos a conhecer as coisas boas, a verdade do turfe. Grande proprietários que tínhamos de animais de corrida: Breno Caldas, Augusto Maria de Sisson, nosso saudoso Estúdio Cruz de Lorena, José Orlandini do Haras Estúdio Realce, lembro ainda do “Dalmata”, ganhador do grande prêmio Protetora, sob a mão do Rossano; o Marcílio Camisa, com Pã, Valete e Camaleão, aqueles três grande parelheiros, saudoso Marcílio Camisa, Dr. Breno Caldas - também, para mim, o turfe tem uma época - o Dr. Breno Caldas foi um verdadeiro marco na criação de corrida no Rio Grande do Sul; Dr. Hofmeister, foi quando trouxe Stocking e Darkware, então mudou, passou a surgir Estensoro, passou a surgir a Ângela, Darksalse, Ouro Duplo e tantos outros animais, que superaram,  foi aquela mudança dos retos, foi a baila dos retos no Hipódromo do Moinhos de Vento. Então, o turfe de Porto Alegre muito deve ao Dr. Breno Caldas, do saudoso Haras Luarado.

Falando, também, em proprietários que tínhamos, como Osvaldo Aranha, o nosso saudoso e companheiro desta Casa, o Martim Aranha, o Bicão Aranha, proprietários de grandes cavalos de corrida e ligados, e verdadeiras pessoas ligadas ao nosso turfe, ao dia-a-dia, nas condições de Martim Aranha ter sido o primeiro Caio Juruá, cronista de turfe do Estado do Rio Grande do Sul. Não é da minha época, para este trabalho eu tive assessoramento do meu grande companheiro Sérgio Lubianca, que me disse: “Jacão, não esquece que o Dr. Martim Aranha foi o primeiro cronista de turfe de Porto Alegre”, eu digo que vou falar, mas que fui auxiliado por ti, Lubianca, porque no meu tempo de colégio, quando estava no Jardim da Infância, no Rosário, e o Lubianca já estava no ginásio.

Também o nosso saudoso Mario Difini era proprietário, o nosso saudoso Almiro Coimbra, Paulo Souza, os irmãos Caruso, o Dr. Lauro Barcelos Lino e tantos outros, os irmãos Andreatta, o nosso saudoso, também, Aristides Pontes, Coronel Sílvio Luiz, João Goulart, o Jango, Itatilio Lopes Tedesco, Ildemburgo de Lima e Silva. Ora, citar nomes assim, é coisa muito difícil e até comprometedora porque sempre se esquece - Carburé, Saturno Rodrigues. Então, tem joqueadas, o Turco, esses dias dizia eu aqui na Casa para vários companheiros: se fizesse um livro sobre o folclórico do turfe, teríamos várias edições, porque seria de grande interesse e até nesse caso folclórico, porque buscaríamos muitas coisas que já ocorrem, dentro do turfe, quando não existia bandeira verde, era comum ver o jóquei agarrar ao outro e passar o laço na reta e tantas outras coisas, porque ganhava quem chegasse primeiro.

Então, Srs. presentes, Presidente Paulo Cezar Sampaio de Oliveira, falarmos em administrações existentes dentro do Jockey Club, que nos marcaram época, primeiro a de Pinheiro Borba quando tirou o nosso Moinhos de Vento e trouxe, hoje, para o colosso do Hipódromo do Cristal, aquelas coisas que, de início, não se adequavam. Nas minhas condições, que vinha do 4º Distrito, lá do Bairro Navegantes, São João e São Geraldo, eu costumava ir a pé ao Hipódromo do Moinhos de Vento, e, agora, tinha que fazer uma viagem bem maior.

Também outras administrações ficaram marcadas, uma delas foi a administração de Fernando Jorge Schneider. Olha, Presidente Fernando Jorge, essa criação que o Ver. Werner Becker falou, que V.Exa. trouxe para o Rio Grande, com a conquista do Posto de Fomento, são duzentos e cinqüenta hectares, quase que de terra virgem e ali que deu uma nova dinamização neste caso aos pequenos criadores. Ali podemos marcar até hoje como um caso do supremo Gol, cavalo criado dentro do posto de fomento do Jockey Club. Outra coisa que muito me marcou porque, na época eu era um dos diretores do departamento jovem do Jockey Clube, sob a administração de Fernando Schneider, quando criou o maior colar de pérolas da América do Sul, que foi a iluminação do Jockey Clube do Rio Grande do Sul. Então, Fernando Schneider, nós na condição de Vereador da Cidade, agradecemos estas coisas ao Dr. Olinto, ao Chula, enfim, a todos os Presidentes que deram a sua cota de sacrifício para o engrandecimento do nosso turfe. Falando em continuidade, nas condições de Vereador e de turfista, homenageei aqui nesta Casa muitos logradouros públicos com o nome de figuras saudosas do nosso turfe. Nós temos uma praça muito bonita no Bairro Floresta, denominada praça Júlio Andreatta, Júlio Andreatta fazia um misto de turfe, corrida de automóvel, jogo de bolão, bocha. Ele era formidável. Participava e muito aprendi na minha vida com Júlio e Catarino Andreatta. Então, foi uma das preocupações que tive, quando aqui adentrei, de homenagear Julio Andreatta. Homenageei também Dr. Almiro Coimbra. Uma outra rua existe na Cidade com o nome de Almiro Coimbra. Existe também uma agora com o nome de Dr. Lauro Barcellos Lira, outro grande proprietário, criador, estimulador do puro sangue que, nós agradecemos e muito trabalho que foi feito. E, como a coisa de turfe nos sensibiliza e nós teríamos assunto para aqui falar quase que um dia. Quero neste momento em que esta homenagem chega ao seu término homenagear aqui os treinadores, como já foi abordado, os jockeys, os Presidentes,  os membros da comissão de corrida, os turfistas, fazer um encerramento muito grato. Quero dizer que agradeço esta oportunidade que tive de colher dados para este meu pronunciamento através de uma assessoria de imprensa turfística e legislativa, do meu amigo Sérgio Lubianca, que assessora esta Casa, do Caio Juruá, do nosso velho companheiro e homem da segurança da Câmara Municipal de Porto Alegre, o nosso velho coruja, o homem que madruga, Euclides Moura. Euclides Moura, hoje visitando a Câmara Municipal de Porto Alegre, o nosso agradecimento pelo que tu fizeste e pelo que tu ensinaste no decorrer desta vida.

Meus amigos, o momento é de grande prazer e quero dizer que me sinto honrado, em nome do PDT, ter feito esta homenagem a todos os turfistas, ao Presidente e aos demais Presidentes e pedir ao Dr. Paulo César Sampaio de Oliveira, que continue por esta senda de amar e conquistar os amigos, e levar o nosso turfe cada vez mais para o alto. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella, que falará em nome do PFL e PL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, meus Senhores e minhas Senhoras, para o orador que fala no final, sempre resta uma vantagem, porque, praticamente tudo foi dito. É uma vantagem até dos ouvintes, porque sabem que o discurso será curto. E eu conversava com o meu amigo Pinheiro Machado dizendo que a Sessão estava transformando-se num clube da saudade, sessão nostalgia, que está muito em moda agora, inclusive em filmes, “A Era do Rádio”, e esta sessão, sabe o protocolo desta Casa, foi uma das sessões que eu gostaria de ter pedido, até ingressei com o pedido quando soube que o Ver. Flávio Coulon já havia solicitado - o Ver. Werner Becker também gostaria de ter pedido - e também gostaria de ter dito e ter recebido a assessoria que recebeu o Ver. Coulon que foi quem pediu a Sessão, quem a iniciou, trouxe todo o histórico desse clube. Jaques Machado, que alia a sua condição de Vereador, condição de proprietário, humilde, mas proprietário de cavalo, e eu que conheci o Paulo Cesar de Sampaio Oliveira, quando ele era colega do meu irmão na engenharia do CPOR e que ele me conhece bem daquela época, eu quero dizer aos senhores que me criei acompanhando o Jockey Club dos Moinhos de Vento, sabia o nome dos cavalos, hipoteticamente apostava, sabia o nome do pai e da mãe dos cavalos, e nunca fui ao Moinhos de Vento e o Paulo Cesar sabe porquê. Era porque, talvez, nem o dinheiro da entrada eu teria, pois, vindo do interior, estudante, não tinha determinadas condições para ir lá. Mas acompanhava e, quando todos falavam aí no Major, no Salomão, eu me lembrava que, por ter o meu nome, eu admirava uma pessoa com quem eu nunca falei - o Dr. Artur Schiedt, do Estúdio Ouro Negro, com o Treinador Maximiliano Souza - seu filho César Souza está aqui. Eu torcia por aquele cavalo de aço, ou cavalo de ferro como diziam, o Ouropan. Era um opositor ao Salomão, ao Major e eu nunca vi este cavalo. Depois, torci por tudo o que tinha o nome de Ouro, em função disto. E, já que estamos nesta sessão nostalgia, eu quero dizer, também, que estou falando em nome do Ver. Jorge Goularte, do Partido Liberal, que me pediu que o fizesse. A parte econômica de todo este contexto, o Ver. Coulon, o Ver. Werner, enfim, todos colocaram aqui. Na verdade, o que representa a criação de cavalos, esse animal que acompanha o homem desde os primeiros momentos. Não é à toa que entre as lendas principais do mundo está o centauro, aquele ser meio-homem, meio-cavalo. Não é à toa que o cavalo sim, avança junto com o homem nas civilizações e quando estudei civilização mexicana, incaica, via que aqueles povos foram conquistados pelas suas lendas porque eles esperavam seres de raça branca que viriam montados em deuses e eles não reagiram perante aqueles invasores porque eles viram aquela união, aquela simbiose tão grande entre os cavaleiros e os cavalos que vieram da Espanha, além-mar, que comparavam os cavalos a deuses. Tudo já foi dito, por isto, encerro, dizendo que o Ver. Werner Becker tem razão dizendo que o Jockey Club não é uma sociedade elitista nem uma sociedade de elite, mas quando se vê a citação dos nomes que dirigiram esta entidade, de pessoas que participavam dessa sociedade, eu diria que não é uma sociedade elitista nem de elite, mas que na sua presidência, na sua direção, nos seus órgãos de assessoramento está a elite do Rio Grande do Sul, está uma elite que representaria, naqueles que se foram, o criador de estádios, José Pinheiro Borba, que, como Conselheiro do Internacional, nós sempre admiramos a sua entrada nas reuniões. Lembro-me de um dos maiores próceres do meu partido, Luiz Fernando Cirne Lima; lembro-me da família toda - Pinheiro Machado, dizendo que se não era um grande homem de letras é porque ele estava, com 15 anos, no Paraguai, montado num cavalo, defendendo a sua Pátria. Lembro-me da minha terra. E de Raul Gudolle, que não está aqui neste momento. Talvez o filho dele não saiba que para nós também era um ser meio místico que tinha um cavalo na capital.

Mas vejam como é difícil a gente falar por último que até a família Aranha, do Martin Aranha, do Aranha Filho, do meu partido, o Jacão já invocou, mas sempre é bom invocar novamente a família Aranha, Martim Aranha, Vereador, Martim Aranha Prefeito, Osvaldo Aranha criador de cavalos que, sempre, dedicaram o melhor do seu tempo, o melhor dos seus interesses no desenvolvimento dessa sociedade. É por isso, meus senhores, que eu falei pouco, porque todos já falaram, mas queria dizer, hoje, que na figura do Dr. Paulo César Sampaio de Oliveira, nosso amigo, amigo de todos, que foi nosso colega na administração municipal, na administração estadual, eu queria, em nome do meu partido, o Partido da Frente Liberal e em nome do Partido Liberal, Ver. Jorge Goularte, dizer que, hoje, é um dos grandes dias, uma das grandes tardes da Câmara Municipal de Vereadores dentro da Semana da Pátria, dentro da Semana da Câmara Municipal de Vereadores, nada mais justo, nada mais ecoante do que homenagearmos os 80 anos do Jockey Club do Rio Grande do Sul - o antigo Protectora do Turfe, que abriga entre os seus quadros e entre as suas atividades esta elite crescente do Estado, este número imenso de colaboradores, os mais unidos, os mais destacados e que têm este sagrado dever de manter vivas as tradições do Rio Grande e manter viva a criação deste animal que acompanha o homem desde o início dos tempos e que tenho certeza no final de tudo é um período em que a humanidade ainda chegará, lá nós estaremos, quem sabe, por todas as nossas origens, e trazendo cada vez mais o nosso respeito e a nossa admiração com um animal tão dócil e tão notável e que a vida inteira sempre conduziu o homem. Não tendo ele, como disse, uma vez, uma pessoa, nenhuma culpa das guerras, onde ele atuou, ou conduziu aqueles guerreiros, sendo na minha opinião, por isso mesmo, o maior amigo do homem. Sr. Presidente, meus cumprimentos, Srs. Ex-presidentes, meus cumprimentos, e a todos nossa admiração pelo trabalho que desenvolvem nessa área. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul.

 

O SR. PAULO CESAR SAMPAIO DE OLIVEIRA: Ver. Geraldo Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Frederico Barbosa, Ver. Flávio Coulon, Líder do PMDB, turfista de escol e autor desta Homenagem; Ver. Hermes Dutra, Líder do PDS; Ver. Werner Becker, Líder do PSB; Ver. Artur Zanella, Ver. Isaac Ainhorn, Ver. Aranha Filho e Ver. Jaques Machado aqui presentes; Ilmo. Sr. Presidente do Conselho Deliberativo do Jockey Club do Rio Grande do Sul, Dr. Armando Frederico Hofmeister; Dr. Antônio de Marchi Chula; Dr. Fernando Schneider; Dr. Olinto Streb, ex-presidentes; companheiros de Diretoria do Jockey Club do Rio Grande do Sul; funcionários, conselheiros, tratadores, jóqueis e cavalariços, senhoras e senhores. Para os que me conhecem e têm a oportunidade de conviver comigo sabem que sempre atuei nos meios políticos-partidários, daí por que me sinto à vontade ao me dirigir a V.Exas. Como homem público, ora exercendo atividades na Direção-Geral do DMAE, ora na Corsan, tive a oportunidade de sentir de perto o trabalho realizado por esta Casa em prol da melhor qualidade de vida da população porto-alegrense, se isto não fosse suficiente, farei juízo que apesar de eventuais posições antagônicas, esta Casa sempre fez prevalecer o interesse público comum no exame, na discussão e na implantação de solução para os problemas de nossa Cidade.

Além destes motivos destaco agora o mais significativo para todos que tem no Jockey Club do RGS, o seu clube. Em nenhuma ocasião em que a Sociedade precisou, deixou de receber o apoio unânime desta egrégia Câmara de Vereadores, por isto, senhor Presidente, Senhores Vereadores, fiz questão de convidar a todos os segmentos que compõem o Jockey Club do RGS, Conselheiros, Diretoria, associados, funcionários, jóqueis, treinadores e cavalariços, para que aqui estivessem juntos neste dia demonstrando à Casa do Povo de Porto Alegre, o apreço e o respeito que tem por esta Câmara, pois ela significa realmente o povo de Porto Alegre, na sua verdadeira representatividade.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, posto isto, peço permissão aos senhores e às autoridades aqui presentes para, em breves palavras, retroceder no tempo e mostrar a todos como chegamos ao Jockey Club do Rio Grande do Sul de hoje, com oitenta anos de existência.

Ao apagar das luzes do século XIX, quando Porto Alegre, tinha ainda limitadas proporções, funcionavam regularmente nada menos que quatro hipódromos em nossa Cidade. Constituíam o denominado Hipódromo Porto-alegrense, ou seja, o Boa Vista, localizado no bairro do Partenon, e à cuja testa se encontravam o médico Ramiro Barcelos e o Cel. Pedro Jobim Ferreira Porto, filho de José Ferreira Porto, o Veador Porto, o primeiro importador de reprodutores PSI para o Estado. O Boa Vista foi o primeiro a promover corridas de cavalos na Capital. Seguiu-se a construção do Prado Rio-Grandense, fundado por Luiz Manoel de Azevedo, no Menino Deus, onde atualmente se acham instaladas dependências da Secretaria da Agricultura. Havia também o hipódromo dos Navegantes, criado por Germano Meisterling e outros, ocupando área dentro dos limites da atual Vila Dona Teodora, e o da Independência, levantado na chácara pertencente à família Mostardeiro.

Todos os hipódromos eram sociedades anônimas cujos interesses se cingiam meramente aos lucros, despreocupando-se com as condições dos nossos criadores e a melhoria do rebanho eqüino. Em conseqüência, criavam-se pontos de atrito entre as Sociedades, aos poucos tendentes a desaparecerem do cenário desportivo da Cidade. Restavam as que se mantinham na Independência, onde funcionava o Derby Club, e no Prado Rio-Grandense, no Menino Deus, onde se estabeleceu o chamado Turfe Club, de curta duração, sempre em confronto com o Prado Boa Vista. Nos alvores deste século, surgiu a idéia de se fundir única organização as entidades turfísticas então existentes na cidade. Um esportista de estirpe, José Joaquim da Silva Azevedo, à testa de um grupo de amigos, lançou a Associação Protetora do Turfe, cuja fundação se concretizou a 7 de setembro de 1907. No começo de novembro do mesmo ano se desdobrou o primeiro programa de corridas patrocinado pela novel entidade. De início, a Associação Protetora do Turfe valia-se de dois hipódromos para a realização de suas reuniões semanais: o da Independência e o do Menino Deus. Anos mais tarde, concentrou as atividades hípicas no da Independência, que se tornou conhecido como o prado dos Moinhos de Vento, cuja área foi adquirida da família Mostardeiro em 1913.

Embora elementos de alta representatividade no meio social da cidade e esportistas repartissem a responsabilidade pela administração da Associação Protetora do Turfe, a Sociedade mergulhou em decadência, decorridos os primeiros anos de fundação. Não houve, de início, quem aceitasse o encargo de reorganizá-la e fazê-la retornar aos seus áureos tempos. Por indicação do então Chefe de Polícia, Dr. Vasco Pinto Bandeira, turfista apaixonado, veio à baila o nome do Cel. Antônio Pedro Caminha para reerguer a entidade que soçobrava. Com pulso firme e reconhecida competência, o Cel. Caminha, deputado provincial e um dos fundadores da Cia. Carris Porto-alegrense, pôs mãos à tarefa que lhe confiavam e nela logrou pleno êxito. Reorganizou a Associação Protetora do Turfe e consolidou sua estrutura, merecendo sua obra o aplauso e a admiração de todos. Quando a morte o surpreendeu em 1914, então reconduzido pelo terceiro mandato sucessivo na presidência da sociedade, sua diretoria deliberou logo tributar-lhe justa homenagem colocando seu busto nos jardins do hipódromo Moinhos de Vento. Transferido para o Cristal desde 1959, o busto do Cel. Caminha relembra para quantos freqüentam o nosso campo de corridas, o real significado do trabalho que desenvolveu, nos momentos de turbulência da entidade, permitindo aos presidentes que o sucederam pudessem manter em ritmo crescente a obra recuperadora encetada. Chegamos assim aos 80 anos de atividade ininterrupta de uma entidade que vive em função dos cavalos de corridas, tão apreciados pelos gaúchos, e que desde o início de dezembro de 1944 tomou a denominação de Jockey Club do Rio Grande do Sul. Foi deliberação de assembléia geral de associados, que entenderam adotar a nova denominação, por mais adequada à época, em substituição à primitiva Associação Protetora do Turfe. Esta, porém, não foi esquecida. Pelo contrário, é sempre rememorada por ocasião do GP Protetora do Turfe, que esta semana mais uma vez se disputa no Cristal.

Cabe aqui mencionar que desde sua fundação através da Associação Protetora do Turfe há oitenta anos atrás, passando pelo tradicional Prado dos Moinhos de Vento até o belo Hipódromo do Cristal de hoje, inúmeros Grandes Prêmios foram desdobrados, contando sempre com grande afluência popular. Entre os Grandes Prêmios citamos o tradicional Protetora do Turfe e o Grande Prêmio Bento Gonçalves - maior prova do nosso Calendário Turfístico - e mais recentemente o Turfe Gaúcho e a Taça de Cristal, prêmios estes que mais ainda motivam a criação do puro-sangue no nosso Estado.

Ao longo destes anos desfilaram grandes cavalos do Turfe Gaúcho, nacional e internacional como Cravete, Major, Salomão, Estensoro, Vizcaino, Corejada, Garve, Zirbo e outros que com suas atrações sensacionais marcaram época nas tardes ensolaradas do Moinhos de Vento e mais recentemente no Cristal.

O Jockey do Rio Grande do Sul é tudo isto! É espetáculo, é lazer, é convívio social, entrelaçando amizade entre homens das mais diferentes camadas sociais. Enfim, é um esporte apaixonante de multidões que durante o passar dos anos permanece fiel ao seu esporte predileto.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o Jockey Club do Rio Grande do Sul que hoje V.Exas. homenageiam é grande, é forte, e luta hoje, entretanto, com enormes dificuldades, como aliás de resto também enfrentam nossa Cidade, nosso Estado e nosso País. Mas se por diversas ocasiões conseguimos e tivemos forças para superar crises funcionais como as de hoje, temos certeza que continuaremos a oferecer ao povo gaúcho, a empolgação e o entusiasmo que representam a característica fundamental da corrida de cavalos.

Daqui a setenta e duas horas estaremos comemorando os oitenta anos de nossa Sociedade. Tenho certeza que, quando completarmos nosso centenário já no alvorecer do século XXI, esta cena tão significativa e marcante será novamente efetivada, pois o Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul de então e os Vereadores da época estarão confraternizando, solidariamente como agora. Muito obrigado.

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Sr. Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul; Dr. Alfredo Hofmeister; Dr. Armando Hofmeister, Presidente da Associação Brasileira de Cavalos de Corrida; demais pessoas ligadas ao Jockey Club do Rio Grande do Sul, creio que as Bancadas desta Casa espelharam com absoluta fidelidade os sentimentos que cercam a Casa do Povo de Porto Alegre sobre o Jockey Club do Rio Grande do Sul, a riqueza de detalhes foi fruto, quero crer, do apreço geral que a instituição, a entidade que os Senhores dirigem representa para Porto Alegre.

Quero, ao finalizar esta sessão, dizer que, “par i passo” com a cidade de Porto Alegre, caminha o Jockey Clube aqui situado. Para nós é quase uma medida, examinarmos a história, e a história do Jockey Club com a história de Porto Alegre. Dizia há pouco ao Dr. Hofmeister, que quando o Jockey Club realizava a sua mudança dos Moinhos de Vento para o Cristal muitos de nós nos perdemos, e perdeu-se de certa forma a identidade da cidade de Porto Alegre. Se por um lado foi uma conquista para o Jockey Club, sem dúvida o foi para aqueles que são mais entendidos no assunto. Por outro lado, foi uma perda para a nossa Cidade, eis que lá, no Moinhos de Vento, freqüentavam, não só os aficionados do Jockey, propriamente dito, mas, também, era um ponto de encontro, sem dúvida, muito grande para todos nós. Teríamos que acrescentar, em uma reflexão, que, casualmente, é a Semana da Pátria, a Semana de Comemoração da Câmara Municipal de Porto Alegre, de aniversário, para dizermos que, também, a história do Jockey Club marca, exatamente, a nossa posição no cenário brasileiro, como gaúchos. E que as dificuldades do Jockey Club todos nós conhecemos. São muito parecidas, ou são simétricas no tempo, com as dificuldades do Rio Grande do Sul. Com tudo isso, quero crer que o Jockey Club, com estas constatações, não só faz parte e se insere na nossa Cidade, por isso todos esses afetos, que traduzem, “pari passo”, os nossos dias, os nossos anos e, sobretudo, os nossos tempos.

Peço aos senhores, como os demais pediram, que consigamos, como deseja o Sr. Presidente do Jockey Club, Dr. Paulo, que consigamos chegar ao ano 2 mil com a vitalidade que pautou sempre as atividades do Jockey Club de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, que estão indelevelmente ligados. Por tudo isso agradeço e repito o que todos os Srs. Vereadores disseram nesta Casa: que foi uma honra tê-los aqui, pois V.Exas. representaram não só o presente do Jockey Club, mas o passado tão evocado. Por último o nosso desejo de que cerque o Jockey Clube as venturas dele, num futuro e no nosso próximo encontro, talvez, do centenário do Jockey Club, como disse o Presidente para alguns e para outros não, mas em todo o caso é um compromisso nosso com o futuro.

Agradeço a presença de todos os senhores. Muito obrigado.

Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h44min.)

 

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