ATA DA VIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 03.09.1987.
Aos três dias
do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala
de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua
Vigésima Sétima Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona
Legislatura, destinada a homenagear os oitenta anos de fundação do Jockey Club
do Rio Grande do Sul. Às dezesseis horas e vinte e cinco minutos, constatada a
existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e
convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Paulo Cesar Sampaio de Oliveira,
Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul; Dr. Armando Hofmeister,
Presidente da Associação Brasileira de Cavalos de Corrida; Sr. Fernando
Schneider; Sr. Olinto Stres; Sr. Antonio Demarchi Chula, Ex-Presidentes do
Jockey Club do Rio Grande do Sul; Ver. Frederico Barbosa, 2º Secretário da
Casa. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam
em nome da Casa. O Ver. Flávio Coulon, em nome do PMDB, PDS e PCB e como
proponente da presente homenagem, fez um breve relato histórico do Jockey Club
do Rio Grande do Sul, desde sua fundação em 1907, com o nome de Proctetora do
Turf, até o momento atual. Leu a Ata da 1ª Sessão Preparatória daquele Clube.
Ao final congratulou-se com todo o Quadro Administrativo e Social do mesmo pela
data de hoje. O Ver. Werner Becker, em nome do PSB, falou de sua satisfação em
participar da presente homenagem, tendo em vista os agradáveis momentos que
aquele Clube lhe proporcionou. Destacou a importância social do Jockey Club do
Rio Grande do Sul bem como o grande número de empregos que gera. O Ver. Jaques
Machado, em nome do PDT falou da justeza da presente homenagem, discorrendo
sobre fatos e personalidades que marcaram época no Jockey Club do Rio Grande do
Sul e no turfe da nossa Cidade, discorrendo sobre personagens marcantes que
fizeram parte da galeria de nomes daquele Clube. O Ver. Artur Zanella, em nome
das Bancadas do PFL e PL, comentou de sua satisfação em prestar homenagem ao
Jockey Club do Rio Grande do Sul, na presente Sessão Solene, a qual gostaria de
ter proposto. Relembro vários fatos e nomes daquela entidade, salientando, que
no assessoramento do mesmo encontram-se os nomes mais expressivos da elite do
Rio Grande do Sul. A seguir o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Paulo
Cesar Sampaio de Oliveira, Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul, que
agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento o Sr. Presidente
proferiu pronunciamento ao ensejo do encerramento da presente Sessão Solene,
convidou os presentes à passarem a Sala da Presidência, convocou os Senhores
Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental e levantou os
trabalhos às dezessete horas e quarenta e quatro minutos. Os trabalhos foram
presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Frederico
Barbosa. Do que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse lavrada
a presente Ata que, após lida e aprovada será assinada pelo Sr. Presidente e 1ª
Secretária.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Flávio
Coulon, que falará em nome das Bancadas do PMDB, PDS, PT e PCB.
O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Minhas Senhoras e meus Senhores, cabe-me, como Vereador proponente
desta Sessão Solene, apresentar um breve histórico da brilhante trajetória do
Jockey Club do Rio Grande do Sul quer como elemento esportivo, quer como
cultural, econômico, turístico e social em nosso Estado. E, ao apresentar esse
histórico, não posso deixar de citar, por dever de justiça, que tenho como
parceiro, nessa empreitada, a figura respeitada e admirada de Nestor de
Magalhães, turfista que é, reconhecidamente, a própria história de nossas
corridas de cavalos, de quem copiei as seguintes informações.
“Época houve em que Porto Alegre, ainda cidade pequena e tranqüila com
seus 100 mil habitantes, dispunha de quatro hipódromos. Findava, então, o
século XIX e entrava-se no novo. Promovendo corridas alternadamente, as
entidades desdobravam seus programas semanais no chamado Prado Rio-Grandense,
que se localizava no bairro do Menino Deus, onde atualmente funciona um
departamento da Secretaria da Agricultura, no Boa Vista, situado no Partenon,
no Navegantes e nos Moinhos de Vento, o da Independência. O entusiasmo pelas
carreiras era grande, e chegou-se a realizar três dias consecutivos de
carreira, com movimentos compensadores em aposta. Entretanto, como as
associações promotoras de corridas de outrora sobrepunham os lucros mercantis
que obtinham à atividade desportiva e menos à criação do cavalo de corrida, não
tardou surgirem atritos entre suas diretorias.
O turfe porto-alegrense entrou, então, em completa decadência, o que
levou à iniciativa de se fundirem numa só agremiação as quatro entidades
existentes. Travou-se séria discussão antes que se escolhesse o hipódromo que
serviria de sede desportiva para a sociedade que nascia. Predominou a sugestão
para localizá-la no prado da Independência, onde, a partir de 1º de outubro de
1899, o Derby Club passou a realizar suas corridas. Entretanto, a novel
sociedade teve duração efêmera, posto que elementos descontentes reabriram os
hipódromos do Menino Deus, onde se organizou o Turfe Clube, e do Partenon,
ambos oferecendo luta ao Derby Club. Aos poucos morreram todas as sociedades, e
o hipismo porto-alegrense entrou novamente em declínio. Não se conformando com
a situação, José Joaquim da Silva Azevedo, valoroso “turfman” da época,
lamentavelmente esquecido na atualidade, tratou de organizar uma nova
associação turfística, para o que recrutou elementos novos, de alta
representação no meio social desportivo. Fundou-se então, a 7 de setembro de
1907, a Associação Protetora do Turfe, que a 3 de novembro do mesmo efetivava
sua corrida inaugural”.
Para que fiquem nos Anais desta Casa, transcrevo a história ata da 1ª
Sessão Preparatória, que merece não só o conhecimento de todos os turfistas
como demonstra que, desde o instante inicial, o Jockey Club teve como
preocupação primordial a lisura e a honestidade de suas atividades, traço
marcante que o acompanha até hoje.
“Aos sete dias do mez de Setembro de 1907 reunidas diversas pessoas
dedicadas ao Sport Hippico ficou resolvida a creação da “Associação Protectora
do Turf” com o fim de unir elementos que pugnassem sériamente pelo
engrandecimento do sport atualmente em crise bem diffícil. A nova associação
será creada visando dividir entre jockeys, tratadores e inscriptores os lucros
líquidos que forem apurados em suas festas sportivas e empenhará a maior
severidade pela máxima moralidade em suas corridas e festas sportivas.
Considerando a anarchia reinante no citado sport ficou deliberado
fazer-se quanto antes os estatutos e regulamentos da Associação e dar-lhes toda
a publicidade para preparar o espírito dos interessados quanto à nova
orientação que a corporação quer dar à situação do turf entre nós, pois é
empenho geral fazer-se a aplicação da lei inexoravelmente, fira a quem ferir.
Por aclamação geral dos presentes ficou eleita a seguinte administração
que dirigirá a Associação até 7 de setembro de 1908. Presidente: Oscar
Canteiro; Vice-Presidente: Cap. Tte. Octavio de Lima e Silva; Secretário: José
Olympio de Souza; Thesoureiro: Cyrillo Pezzani; Directores: Cap. Raul Amorim,
André Kraemer, Fernando Brochado, Ignacio José da Silva, Elysio Feijó, Jacintho
Bernardo Henrique, Henrique Gonçalves; Directores Geraes: Martins Minaberry
Jrº., José Joaquim da Silva Azevedo,
Alfredo de Mello e Costa; Conselho Fiscal: Edmundo Bastian, Dr. Sergio de
Oliveira; Joaquim Rodrigues de Almeida.
Ficou resolvido fazer-se segunda reunião preparatória a 9 de outubro
p.f. para o que serão convidados os sócios e interessados que se queiram
inscrever na Associação.
Porto Alegre, 7 de setembro de 1907.
Em tempo: A Diretoria resolve considerar fundadores todos os sócios que
pagarem logo o trimestre de Outubro-Novembro/Dezembro.”
A Diretoria da novel Associação Protetora do Turfe levantou o desporto
das rédeas na capital. Mas, passados tempos, a entidade entrou em crime e teve
de ser reorganizada. Coube ao Cel. Antônio Pedro Caminha, considerado o consolidador
do turfe porto-alegrense, a tarefa de soerguer a entidade. E o conseguiu
durante sua administração que se estendeu de 1909 a 1914, na qual se instituiu
o GP Bento Gonçalves, assim como outras provas que até hoje se disputam no
Hipódromo do Cristal.
À de Caminha, falecido em 1914, seguiram-se as gestões dos presidentes
Carlos Drügg (1914/1915), Armando de Alencar (1916/1917), José I. Cunha Rasgado
(1918/1921), Leonel Faro (1922/1924), Domingos da Costa Lino (1925), José I.
Cunha Rasgado (1926/1927), Raul Bastian (1928/1929), Mário Morais (1930/1931),
Domingos C. Lino(1932/1933), Leonel Faro (1934/1935), Raul Bastian (1936/1937),
José Herculano Machado (1938/1939), Domingos C. Lino (1940), Antenor Granja de
Abreu (1941) e Leonel Faro (1942/1943).
Em 1944, em assembléia geral dos associados especialmente convocada,
mereceu aprovação a deliberação de permutar o antigo nome da Associação
Protetora do Turfe pelo de Jockey Club do Rio Grande do Sul.
Já sob a égide da nova denominação, dirigiram os destinos da entidade
os seguintes presidentes: Cneu Aranha 1944/1945), Naio Lopes de Almeida
(1946/1949), Daniel Krieger (1950/1955), Vicente Marques Santiago (1956/1959),
José Pinheiro Borba (1960/1961), Indemburgo de Lima e Silva (1962/1963),
Fernando Jorge Schneider (1964/1967), Olinto B. Streb (1968/1973), Claudio Luiz
Sperb (1974/1978) Antonio Demarchi Chula (1979/1980), Francisco Roberto
Dall’Igna (1981/1982), Flavio José Gomes (1983/1984), e Paulo Cesar de Oliveira
(1985 até o presente).
A 15 de novembro de 1959 o Velho Prado dos Moinhos de Vento encerrou
suas atividades em definitivo e a 21 de novembro do mesmo ano passava a
funcionar o novo Hipódromo do Cristal.
Feito este breve resumo histórico, mister se faz que façamos algumas
referências a respeito da pujança econômica que gira em torno das atividades
ligadas aos cavalos de corrida.
Temos, no Brasil, mais de 100.000 pessoas que, direta ou indiretamente,
estão vinculadas ao puro sangue inglês; dessas, cerca de 35% vivem no Rio
Grande do Sul onde se concentram cerca de 400 haras de criação de puro sangue
inglês, alguns com prestígio internacional, e cerca de 23 hipódromos para
corridas.
Em torno dessa atividade econômica gira todo um complexo
agrícola-industrial que vai desde a cultura da aveia, milho, alfafa etc. até à
produção de serragem, sais minerais, medicamentos, vermífugos, vacinas,
artefatos de couro e metal etc.
Particularmente em Porto Alegre, temos ligados ao nosso Jockey Club
nada menos que 1300 cavalos puro sangue pertencentes a quase duas centenas de
proprietários, que absorvem o trabalho de cerca de 1000 pessoas, entre jóqueis,
tratadores, cavalariços, escovadores etc.
Falei até agora de história e economia. Peço-lhes um pouco de mais
paciência para que encerre falando de paixão.
A saga do povo rio-grandense foi escrita e moldada por figuras
mitológicas onde se fundiam homem e cavalo, numa integração tão perfeita que,
na devida escala, não se conseguia perceber onde começava um e terminava outro.
Não existem dúvidas que vagam cavalgando por esse pampa rio-grandense os
espíritos desses semi-deuses - e eu citaria Sepé Tiarajú como um exemplo deles
- aspergindo, sobre cada gaúcho que nasce, o amor pela figura do cavalo. Ao
longo de toda minha vida ainda não encontrei nenhum rio-grandense que não se
emocione, que não se toque, que deixe de sentir uma vibração diferente quando
se vê um cavalo; e muito menos quando vê um puro sangue inglês de corrida!
E, o que é o Jockey Club do Rio Grande do Sul dentro desse quadro
apaixonado? É o aglutinador, é o catalisador, é a casa que transforma essa
paixão pela emoção da disputa, pela expressão da estética, pela incerteza do
resultado final, em amizade entre as pessoas.
Outra constatação absoluta: não existem pessoas sozinhas dentro do
Jockey; sempre existe um amigo por perto para uma troca de palpites, para um
comentário, para um bate-papo turfístico, de preferência... Essa, para mim, a
característica mais marcante do Jockey: aglutinados pelo amor aos cavalos, os
homens se reúnem para serem amigos e, em o fazendo, renovam a felicidade
daqueles cavalgantes semi-deuses a que me referi anteriormente e tornam a vida
de todos melhor.
Alguém pode medir o quanto de amizade e quanto de alegria entra na
gente quando em torno de um churrasco na cocheira se reúnem o Foguinho
Presidente, o Gordo Franco, o Mestre Armando, o Coruja Pedrinho, o Carioca
Alfredo, o Trovejante Luizinho, o Tratador Marquinho, o Doutor Biduio, o
Magrinho Marcantonio, o Judeu Westphalen, o Ministro Cirne, o Distribuidor
Lélis e tantos outros caros amigos?
Senhor Presidente Paulo Sampaio Oliveira: já me tardo, sei bem. Em nome
da Bancada do PMDB, peço-lhe que leve a todo o corpo associativo, aos
conselheiros, aos aficionados, aos funcionários, aos tratadores, jóqueis,
cavalariços, ferreiros - enfim, a todos que giram em torno do Jockey Club do
Rio Grande - os nossos cumprimentos pelo octogésimo aniversário da entidade e
os nossos agradecimentos pelo que ela representa dentro do contexto social,
esportivo, cultural e, sobretudo, afetivo de nosso Estado e, particularmente,
de nossa Capital. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem de inscritos,
com a palavra o Ver. Werner Becker, que falará em nome da Bancada do PSB.
O SR. WERNER BECKER: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Srs. Convidados, avesso que sou às Sessões Solenes, talvez por uma
congênita aversão ao formalismo das solenidades, participo desta Sessão com
muita satisfação e também por dever de ofício de Vereador. A satisfação decorre
de relembrar emocionantes momentos que o Jockey Club do Rio Grande do Sul
proporcionou a mim gratuitamente, menino ainda, originário de uma família de
classe média e pobre. Na minha retina embaçada, com bastante emoção, gravo
ainda o abraço desesperado de despedida do Carlos Neto, o Netinho; do Astuto,
um pouco antes do sacrifício após um Grande Prêmio Bento Gonçalves, mais
precisamente de 1949. Foi ali, talvez, que tenha aprendido que chorar não é
vergonha para um homem, que muitas vezes engrandece e enobrece.
De outra parte, gravo ainda as emoções que me proporcionavam os grandes
duelos, lembro agora, Cravete e Carcel Major e Salomão e outros que a memória
dos turfistas aqui presentes guarda, e que se repetem nos fins de semana no
Cristal, hoje. Lembro-me, também, de um grande momento de solidariedade de
classe, que talvez a alguns tenha passado despercebido, mas não aos que têm
sensibilidade social, foi quando os companheiros de profissão cederam o Jockey,
esses meninos, alguns, hoje, já de meia idade, cederam suas montarias,
gratuitamente, para que um companheiro de profissão, Antonio Ricardo, pudesse
receber o laurel de recordista brasileiro em vitórias. Difícil encontrar essa
solidariedade de classe em outros segmentos da sociedade. Também aprendi, no
Jockey Club.
E, me emociona, fundamentalmente, esse momento, porque se tenho aqui
presente amigos, tenho ídolos. E, vejo aqui presente a tocada esperta e
enérgica do Omar Batista, chegando muitas e muitas vezes com sucesso a frente
do disco. Também, a devoção e o carinho de há muito, desde os meus tempos de
guri, Nereu, que tratava, cuidava e acariciava seus cavalos. Seus! Porque se
tinham outra propriedade, afetividade, maior, tenho certeza, era do, agora,
velho Nereu. Pois, há oitenta anos, desde que foi fundada a Protetora do Turf,
nome antigo do Jockey Club, lá, ainda é hoje o Parque de Exposições, depois, na
24 de Outubro, e agora, no Cristal o Jockey Club vem proporcionando esses
momentos a todos os segmentos sociais. Por isso disse que ocupo esta tribuna
também por dever de ofício. É necessário desfazer um preconceito. Aliás, é
necessário que um dia sejam desfeitos todos os preconceitos. Se as algemas
amarram o físico dos homens, os preconceitos amarram e agrilhoam as idéias. Mas
vamos falar especificamente de um preconceito: que o Jockey Clube seja uma
entidade de elite. Quem eu não vejo no Jockey Clube são as elites. Eu que
freqüento o Jockey Club vejo os mais desafortunados, os mais desamparados, a
classe média lá comparecer. Quem eu não vejo são as elites da fortuna e as
elites pseudo-intelectuais que, com verdade dogmática, acham que é muito
prosaico olhar a realidade e preferem as lições mal digeridas, recolhidas nas
orelhas das leituras apressadas de um livro. Talvez o nome Jockey Club assuste
aos superficiais. Talvez dizer que os chefes de raça do puro sangue Byelly
Turk, Darley, Arabian e Godolphin Barb, era um passatempo dos ingleses. Mas
vamos, também, impugnar o foot-ball, palavra inglesa, o penalty, o corner, foi
implantada no Brasil pelo aristocrata Charles Miller. Mas será que o povo
também não tem direito de usufruir o que os ricos usufruem? E, certamente, um
dia, todos usufruirão as mesmas coisas. Não os senhores presentes, porque as
informações que foram prestadas de forma copiosa e precisa pelo meu colega
Flávio Coulon quase que me retiram qualquer coisa a acrescentar ao meu
discurso. Não os preconceituosos, porque estes não estão interessados em
receber informação nenhuma, mas aqueles que podem ser influenciados por aqueles
que apregoam uma versão absolutamente errônea do Jockey Club. Vamos começar
pelo mercado de trabalho do Jockey Club que emprega, diretamente, cerca de mil
famílias, entre funcionários, jóqueis, cavalariços, escovadores, protegidos
pela caixa beneficente dos funcionários. Instituição exemplar, cuja estrutura
deveria ser conhecida por todos, e aplicada por muitos. Indiretamente, mais de
dez mil pessoas, num universo que se completa por um multiplicador de quatro,
teríamos dez mil famílias, ou seja, quarenta mil pessoas vivem da atividade
econômica do Jockey Club, pois, além desses, que são empregados diretamente,
temos os forrageiros, os transportadores, os empregados de haras, entre outros
tantos. Os 90 hectares do Jockey Club, sendo que de 30 a 40 de área verde, são
entregues cada fim de semana, gratuitamente, ao lazer da população. Só os que
não conhecem o Jockey Club não sabem destas verdades - e desculpem se repito o
óbvio. Aos ecologistas: talvez muitos não saibam que, graças ao Jockey Club, é
preservada a maior reserva ecológica de Porto Alegre e uma das maiores do Rio
Grande do Sul - 200 ha de mata “in natura”, habitada por várias espécies
animais, que têm lá o seu “habitat” e lá a sua criação. É bom lembrar, também,
que o cavalo, indispensável à lide do campo, recebe, na evolução científica da
genética, muitos e muitos subsídios do Jockey Club, para que, a partir da
evolução genética do puro sangue, o pêlo duro do interior possa ser um cavalo
cada vez melhor, mais forte e mais adequado para as suas tarefas.
É este o Jockey Club que me dá a honra de homenageá-lo pelas suas
presenças. Com extraordinária satisfação, e repito, por dever de ofício. Não me
passou despercebida a presença do Paulo. Omiti a presença do Paulo porque não o
saberia tratar como personalidade. É uma amizade grande, devotada, de algumas
décadas - não vamos quantificá-las - mas não posso também, como Vereador da
Cidade, dizer apenas que sou, além de amigo, e recebo provas muito constante de
reciprocidade, seu admirador, embora a amizade seja tão grande que me seja
obrigado a averbar a suspeição de tudo quanto disser a respeito do Paulo. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Fala pelo PDT o Ver. Jaques
Machado.
O SR. JAQUES MACHADO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, demais presentes, momento igual a este sempre é digno de grande
satisfação, digo de grande satisfação porque hoje esta Casa presta uma das mais
justas homenagens que eu já tive o prazer de participar, na condição de
Vereador desta Casa. Fala-se da Sessão Solene em homenagem ao Jockey Club do RS,
Jockey Club esse que bate fundo em nosso sentimento, nesse momento em que uso a
palavra, em nome da bancada do PDT e também em nome do meu companheiro de
grandes jornadas, o Ver. Aranha Filho, presente hoje aqui nesta Sessão, até
adoentado, mas comparecendo a esta grande efeméride da Câmara Municipal, neste
dia, que mais uma vez digo, homenageio o Jockey Club do Rio Grande do Sul. Não
sei se começo o meu pronunciamento dizendo “Está mal aqui, seu Delfim!” Eram
palavras que a gente, no tempo de guri, estudante do Colégio Rosário, eu
morando no Quarto Distrito, na parte baixa da Cidade, atalhava a pé, subia a
Dr. Timóteo, passava pela Churrascaria Santo Antônio, ia ao Hipódromo do
Moinhos de Vento para ali ver grandes figuras, - hoje presentes aqui nesta Casa,
- Figuras saudosas, outras figuras presentes. Então, poderia começar falando em
Fernando Schneider, grande professor e amigo, não somente do Jockey Club, mas
também da Cidade, Dr. Olinto Borba. Recordo-me que no tempo de menino
ganhávamos lápis da Drogaria Brasil, que dizia “Quem mais barato vende melhor
atende”. O nosso companheiro Paulo Sampaio, o Armando Hofmeister, irmão do
nosso companheiro Mauro e Antonio Chula, juntamente com sua família, sempre
participando do engrandecimento do nosso turfe. Então, recordo-me de passagens,
naquele tempo saudoso do Moinhos de Vento, onde aprendi a respeitar e a
conhecer verdadeiros profissionais do turfe. Figuras como a do meu avô, com
prêmios hoje titulado de Consolação José Herculano Machado, meu pai, meus tios.
E hoje pela manhã ainda recebi um telegrama de um tio meu que está radicado no
Rio de Janeiro há muitos anos, Carlos Machado, que estava junto como Chico
Recarrey dizendo “Jacão hoje tem uma homenagem ao Jockey Club e nós já soubemos
aqui que vai ser homenageado o Jockey Club do Rio Grande do Sul na Câmara”, eu
disse eu vou dar o recado e uma mensagem por eles.
Então, recordo-me de animais saudosos que ficaram e nos marcaram, nos
gravaram em nossa retina e também em nossos ouvidos, ficaram ecoados aquelas
grandes locuções do tempo de Souza Lobo, no tempo do Macedo, do Vergara, do
Rubens de Oliveira e, hoje, Caio Juruá, enfim, o Mazeron, e tantos outros, que
transmitem turfe. Lembro-me de animais como Salomão, lembro-me de animais como
Cravete, Carcel, Astuto - como frisou Werner Becker - coisas que nos
sensibilizaram e nos marcaram, que nos levaram até as lágrimas. O caso, também,
do Avanês daquele que, inesperadamente, naquele dia em que eu matava a aula,
ainda no padoque do Moinhos de Vento, vi o Avanês não contornar a curva da
entrada da reta e entrar padoque a dentro e subir quase que um aclive que tinha
arrebentado cerca e ai morreu Avanês do nosso Augusto Maria Sisson. Treinadores
que conheci na época do Moinhos de Vento e muitos deles hoje saudosos, mas
muitos, ainda que permanecem vivos como é o caso do Sr. Antão Farias do Estude
Brasileiro. Conheci, também, Augustin Dias, ali, o D. Camilo, Gregório, seu
Carlos Gasparini, seu Gandini, o Nêgo Rato. O Nego Rato até hoje recebido. Meu
companheiro Ari Lima, um amigo. Também o Ari Lima que foi Vereador na Cidade de
Bento Gonçalves, também companheiro de várias jornadas, hoje grande
proprietário no Jockey Club, um presente que para mim é muito gratificante,
dizendo que vai botar um ponto no meu nome, para colocar o nome de Nego Rato,
porque já tem um com o nome de Nego Siloca.
Então, são coisas afetivas que a gente têm, laços de carinho dentro do
nosso turfe. Os escovadores que permaneceram e que trabalhavam e que estão
vivos, muitos deles. O caso do Paquetá, do Loco-Loco e do Nego Siloca que eu
acabei de falar. Tinham, vendo hoje aqui presentes, jovens de verdadeiras
munhecas, que passaram e que a gente aprendeu até torcer, dizendo, “Toca
Galvão, toca Gigante”, assim como hoje esta nossa juventude diz, “Toca Batista,
toca Eliseu Rodrigues, o Chinês”. Até no Jockey eu sou muito gratificado até
porque ganhou o primeiro cavalo, deu Nego Siloca.
Então, têm jóqueis que marcaram época no tempo do Moinhos de Vento.
Recordo-me da Avenida Armando Rosa, da Revista do Globo, que nós temos hoje
aqui nos Arquivos da Câmara, Avenida Armando Rosa, ficou gravado. O Mário
Oliveira, o Ganganeli Cunha, o Gigante, Leonel Pereira, o Armando Reyna, que
cansava de dar partida para o Quartzo, eu que era guri observava: “deu, Quartzo”,
largava Armando. Rui Gomes, Rossano, Edir Rocha, Francisco Xavier, Cardoso,
Domingos Severino. E depois mudou a época das tocadas no prado. Fui quando
entrou o Silmar Lobo, o Antônio Ricardo e Reinaldo Baratieri; saíam as
joqueadas daquela estaticidade geocêntrica e lançava-se no universo
heliocêntrico e turbulento, dinâmico de Copérnico. Foram aquelas tocadas do
Antonio Ricardo: “tocando por dentro, tocando”, e pegava o nosso saudoso
Francisco Xavier, “socando em cima”, o Ricardo ia por dentro e matava. Não
tinha. São coisas saudosas do nosso turfe, Werner Becker. Recordo o Ricardo
“baretando o Silmar Lobo”, depois este foi a São Paulo e ficou líder, como também foi o caso do nosso Clóvis
Dutra, a coisa mudou. É, assim como estamos falando em jóqueis saudosos e
grandes tocadas, ali, aprendemos a conhecer as coisas boas, a verdade do turfe.
Grande proprietários que tínhamos de animais de corrida: Breno Caldas, Augusto
Maria de Sisson, nosso saudoso Estúdio Cruz de Lorena, José Orlandini do Haras
Estúdio Realce, lembro ainda do “Dalmata”, ganhador do grande prêmio Protetora,
sob a mão do Rossano; o Marcílio Camisa, com Pã, Valete e Camaleão, aqueles
três grande parelheiros, saudoso Marcílio Camisa, Dr. Breno Caldas - também,
para mim, o turfe tem uma época - o Dr. Breno Caldas foi um verdadeiro marco na
criação de corrida no Rio Grande do Sul; Dr. Hofmeister, foi quando trouxe
Stocking e Darkware, então mudou, passou a surgir Estensoro, passou a surgir a
Ângela, Darksalse, Ouro Duplo e tantos outros animais, que superaram, foi aquela mudança dos retos, foi a baila
dos retos no Hipódromo do Moinhos de Vento. Então, o turfe de Porto Alegre
muito deve ao Dr. Breno Caldas, do saudoso Haras Luarado.
Falando, também, em proprietários que tínhamos, como Osvaldo Aranha, o
nosso saudoso e companheiro desta Casa, o Martim Aranha, o Bicão Aranha,
proprietários de grandes cavalos de corrida e ligados, e verdadeiras pessoas
ligadas ao nosso turfe, ao dia-a-dia, nas condições de Martim Aranha ter sido o
primeiro Caio Juruá, cronista de turfe do Estado do Rio Grande do Sul. Não é da
minha época, para este trabalho eu tive assessoramento do meu grande
companheiro Sérgio Lubianca, que me disse: “Jacão, não esquece que o Dr. Martim
Aranha foi o primeiro cronista de turfe de Porto Alegre”, eu digo que vou
falar, mas que fui auxiliado por ti, Lubianca, porque no meu tempo de colégio,
quando estava no Jardim da Infância, no Rosário, e o Lubianca já estava no
ginásio.
Também o nosso saudoso Mario Difini era proprietário, o nosso saudoso
Almiro Coimbra, Paulo Souza, os irmãos Caruso, o Dr. Lauro Barcelos Lino e
tantos outros, os irmãos Andreatta, o nosso saudoso, também, Aristides Pontes,
Coronel Sílvio Luiz, João Goulart, o Jango, Itatilio Lopes Tedesco, Ildemburgo
de Lima e Silva. Ora, citar nomes assim, é coisa muito difícil e até
comprometedora porque sempre se esquece - Carburé, Saturno Rodrigues. Então,
tem joqueadas, o Turco, esses dias dizia eu aqui na Casa para vários
companheiros: se fizesse um livro sobre o folclórico do turfe, teríamos várias
edições, porque seria de grande interesse e até nesse caso folclórico, porque
buscaríamos muitas coisas que já ocorrem, dentro do turfe, quando não existia
bandeira verde, era comum ver o jóquei agarrar ao outro e passar o laço na reta
e tantas outras coisas, porque ganhava quem chegasse primeiro.
Então, Srs. presentes, Presidente Paulo Cezar Sampaio de Oliveira,
falarmos em administrações existentes dentro do Jockey Club, que nos marcaram
época, primeiro a de Pinheiro Borba quando tirou o nosso Moinhos de Vento e
trouxe, hoje, para o colosso do Hipódromo do Cristal, aquelas coisas que, de
início, não se adequavam. Nas minhas condições, que vinha do 4º Distrito, lá do
Bairro Navegantes, São João e São Geraldo, eu costumava ir a pé ao Hipódromo do
Moinhos de Vento, e, agora, tinha que fazer uma viagem bem maior.
Também outras administrações ficaram marcadas, uma delas foi a
administração de Fernando Jorge Schneider. Olha, Presidente Fernando Jorge,
essa criação que o Ver. Werner Becker falou, que V.Exa. trouxe para o Rio
Grande, com a conquista do Posto de Fomento, são duzentos e cinqüenta hectares,
quase que de terra virgem e ali que deu uma nova dinamização neste caso aos
pequenos criadores. Ali podemos marcar até hoje como um caso do supremo Gol,
cavalo criado dentro do posto de fomento do Jockey Club. Outra coisa que muito
me marcou porque, na época eu era um dos diretores do departamento jovem do
Jockey Clube, sob a administração de Fernando Schneider, quando criou o maior
colar de pérolas da América do Sul, que foi a iluminação do Jockey Clube do Rio
Grande do Sul. Então, Fernando Schneider, nós na condição de Vereador da
Cidade, agradecemos estas coisas ao Dr. Olinto, ao Chula, enfim, a todos os
Presidentes que deram a sua cota de sacrifício para o engrandecimento do nosso
turfe. Falando em continuidade, nas condições de Vereador e de turfista,
homenageei aqui nesta Casa muitos logradouros públicos com o nome de figuras
saudosas do nosso turfe. Nós temos uma praça muito bonita no Bairro Floresta,
denominada praça Júlio Andreatta, Júlio Andreatta fazia um misto de turfe,
corrida de automóvel, jogo de bolão, bocha. Ele era formidável. Participava e
muito aprendi na minha vida com Júlio e Catarino Andreatta. Então, foi uma das
preocupações que tive, quando aqui adentrei, de homenagear Julio Andreatta.
Homenageei também Dr. Almiro Coimbra. Uma outra rua existe na Cidade com o nome
de Almiro Coimbra. Existe também uma agora com o nome de Dr. Lauro Barcellos
Lira, outro grande proprietário, criador, estimulador do puro sangue que, nós
agradecemos e muito trabalho que foi feito. E, como a coisa de turfe nos
sensibiliza e nós teríamos assunto para aqui falar quase que um dia. Quero
neste momento em que esta homenagem chega ao seu término homenagear aqui os
treinadores, como já foi abordado, os jockeys, os Presidentes, os membros da comissão de corrida, os
turfistas, fazer um encerramento muito grato. Quero dizer que agradeço esta
oportunidade que tive de colher dados para este meu pronunciamento através de
uma assessoria de imprensa turfística e legislativa, do meu amigo Sérgio
Lubianca, que assessora esta Casa, do Caio Juruá, do nosso velho companheiro e
homem da segurança da Câmara Municipal de Porto Alegre, o nosso velho coruja, o
homem que madruga, Euclides Moura. Euclides Moura, hoje visitando a Câmara
Municipal de Porto Alegre, o nosso agradecimento pelo que tu fizeste e pelo que
tu ensinaste no decorrer desta vida.
Meus amigos, o momento é de grande prazer e quero dizer que me sinto
honrado, em nome do PDT, ter feito esta homenagem a todos os turfistas, ao
Presidente e aos demais Presidentes e pedir ao Dr. Paulo César Sampaio de
Oliveira, que continue por esta senda de amar e conquistar os amigos, e levar o
nosso turfe cada vez mais para o alto. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur
Zanella, que falará em nome do PFL e PL.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, meus Senhores e minhas Senhoras, para o orador que fala no final,
sempre resta uma vantagem, porque, praticamente tudo foi dito. É uma vantagem
até dos ouvintes, porque sabem que o discurso será curto. E eu conversava com o
meu amigo Pinheiro Machado dizendo que a Sessão estava transformando-se num
clube da saudade, sessão nostalgia, que está muito em moda agora, inclusive em
filmes, “A Era do Rádio”, e esta sessão, sabe o protocolo desta Casa, foi uma
das sessões que eu gostaria de ter pedido, até ingressei com o pedido quando
soube que o Ver. Flávio Coulon já havia solicitado - o Ver. Werner Becker
também gostaria de ter pedido - e também gostaria de ter dito e ter recebido a
assessoria que recebeu o Ver. Coulon que foi quem pediu a Sessão, quem a
iniciou, trouxe todo o histórico desse clube. Jaques Machado, que alia a sua
condição de Vereador, condição de proprietário, humilde, mas proprietário de
cavalo, e eu que conheci o Paulo Cesar de Sampaio Oliveira, quando ele era
colega do meu irmão na engenharia do CPOR e que ele me conhece bem daquela
época, eu quero dizer aos senhores que me criei acompanhando o Jockey Club dos
Moinhos de Vento, sabia o nome dos cavalos, hipoteticamente apostava, sabia o
nome do pai e da mãe dos cavalos, e nunca fui ao Moinhos de Vento e o Paulo
Cesar sabe porquê. Era porque, talvez, nem o dinheiro da entrada eu teria,
pois, vindo do interior, estudante, não tinha determinadas condições para ir
lá. Mas acompanhava e, quando todos falavam aí no Major, no Salomão, eu me
lembrava que, por ter o meu nome, eu admirava uma pessoa com quem eu nunca
falei - o Dr. Artur Schiedt, do Estúdio Ouro Negro, com o Treinador Maximiliano
Souza - seu filho César Souza está aqui. Eu torcia por aquele cavalo de aço, ou
cavalo de ferro como diziam, o Ouropan. Era um opositor ao Salomão, ao Major e
eu nunca vi este cavalo. Depois, torci por tudo o que tinha o nome de Ouro, em
função disto. E, já que estamos nesta sessão nostalgia, eu quero dizer, também,
que estou falando em nome do Ver. Jorge Goularte, do Partido Liberal, que me
pediu que o fizesse. A parte econômica de todo este contexto, o Ver. Coulon, o
Ver. Werner, enfim, todos colocaram aqui. Na verdade, o que representa a
criação de cavalos, esse animal que acompanha o homem desde os primeiros
momentos. Não é à toa que entre as lendas principais do mundo está o centauro,
aquele ser meio-homem, meio-cavalo. Não é à toa que o cavalo sim, avança junto
com o homem nas civilizações e quando estudei civilização mexicana, incaica,
via que aqueles povos foram conquistados pelas suas lendas porque eles
esperavam seres de raça branca que viriam montados em deuses e eles não
reagiram perante aqueles invasores porque eles viram aquela união, aquela
simbiose tão grande entre os cavaleiros e os cavalos que vieram da Espanha,
além-mar, que comparavam os cavalos a deuses. Tudo já foi dito, por isto,
encerro, dizendo que o Ver. Werner Becker tem razão dizendo que o Jockey Club
não é uma sociedade elitista nem uma sociedade de elite, mas quando se vê a
citação dos nomes que dirigiram esta entidade, de pessoas que participavam dessa
sociedade, eu diria que não é uma sociedade elitista nem de elite, mas que na
sua presidência, na sua direção, nos seus órgãos de assessoramento está a elite
do Rio Grande do Sul, está uma elite que representaria, naqueles que se foram,
o criador de estádios, José Pinheiro Borba, que, como Conselheiro do
Internacional, nós sempre admiramos a sua entrada nas reuniões. Lembro-me de um
dos maiores próceres do meu partido, Luiz Fernando Cirne Lima; lembro-me da
família toda - Pinheiro Machado, dizendo que se não era um grande homem de
letras é porque ele estava, com 15 anos, no Paraguai, montado num cavalo,
defendendo a sua Pátria. Lembro-me da minha terra. E de Raul Gudolle, que não
está aqui neste momento. Talvez o filho dele não saiba que para nós também era
um ser meio místico que tinha um cavalo na capital.
Mas vejam como é difícil a gente falar por último que até a família
Aranha, do Martin Aranha, do Aranha Filho, do meu partido, o Jacão já invocou,
mas sempre é bom invocar novamente a família Aranha, Martim Aranha, Vereador,
Martim Aranha Prefeito, Osvaldo Aranha criador de cavalos que, sempre,
dedicaram o melhor do seu tempo, o melhor dos seus interesses no
desenvolvimento dessa sociedade. É por isso, meus senhores, que eu falei pouco,
porque todos já falaram, mas queria dizer, hoje, que na figura do Dr. Paulo
César Sampaio de Oliveira, nosso amigo, amigo de todos, que foi nosso colega na
administração municipal, na administração estadual, eu queria, em nome do meu
partido, o Partido da Frente Liberal e em nome do Partido Liberal, Ver. Jorge
Goularte, dizer que, hoje, é um dos grandes dias, uma das grandes tardes da
Câmara Municipal de Vereadores dentro da Semana da Pátria, dentro da Semana da
Câmara Municipal de Vereadores, nada mais justo, nada mais ecoante do que
homenagearmos os 80 anos do Jockey Club do Rio Grande do Sul - o antigo
Protectora do Turfe, que abriga entre os seus quadros e entre as suas
atividades esta elite crescente do Estado, este número imenso de colaboradores,
os mais unidos, os mais destacados e que têm este sagrado dever de manter vivas
as tradições do Rio Grande e manter viva a criação deste animal que acompanha o
homem desde o início dos tempos e que tenho certeza no final de tudo é um
período em que a humanidade ainda chegará, lá nós estaremos, quem sabe, por
todas as nossas origens, e trazendo cada vez mais o nosso respeito e a nossa
admiração com um animal tão dócil e tão notável e que a vida inteira sempre
conduziu o homem. Não tendo ele, como disse, uma vez, uma pessoa, nenhuma culpa
das guerras, onde ele atuou, ou conduziu aqueles guerreiros, sendo na minha
opinião, por isso mesmo, o maior amigo do homem. Sr. Presidente, meus
cumprimentos, Srs. Ex-presidentes, meus cumprimentos, e a todos nossa admiração
pelo trabalho que desenvolvem nessa área. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr.
Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul.
O SR. PAULO CESAR SAMPAIO DE
OLIVEIRA:
Ver. Geraldo Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;
Ver. Frederico Barbosa, Ver. Flávio Coulon, Líder do PMDB, turfista de escol e
autor desta Homenagem; Ver. Hermes Dutra, Líder do PDS; Ver. Werner Becker,
Líder do PSB; Ver. Artur Zanella, Ver. Isaac Ainhorn, Ver. Aranha
Filho e Ver. Jaques Machado aqui presentes; Ilmo. Sr. Presidente do Conselho
Deliberativo do Jockey Club do Rio Grande do Sul, Dr. Armando Frederico
Hofmeister; Dr. Antônio de Marchi Chula; Dr. Fernando Schneider; Dr. Olinto
Streb, ex-presidentes; companheiros de Diretoria do Jockey Club do Rio Grande
do Sul; funcionários, conselheiros, tratadores, jóqueis e cavalariços, senhoras
e senhores. Para os que me conhecem e têm a oportunidade de conviver comigo
sabem que sempre atuei nos meios políticos-partidários, daí por que me sinto à
vontade ao me dirigir a V.Exas. Como homem público, ora exercendo atividades na
Direção-Geral do DMAE, ora na Corsan, tive a oportunidade de sentir de perto o
trabalho realizado por esta Casa em prol da melhor qualidade de vida da
população porto-alegrense, se isto não fosse suficiente, farei juízo que apesar
de eventuais posições antagônicas, esta Casa sempre fez prevalecer o interesse
público comum no exame, na discussão e na implantação de solução para os
problemas de nossa Cidade.
Além destes motivos destaco agora o mais significativo para todos que
tem no Jockey Club do RGS, o seu clube. Em nenhuma ocasião em que a Sociedade
precisou, deixou de receber o apoio unânime desta egrégia Câmara de Vereadores,
por isto, senhor Presidente, Senhores Vereadores, fiz questão de convidar a
todos os segmentos que compõem o Jockey Club do RGS, Conselheiros, Diretoria,
associados, funcionários, jóqueis, treinadores e cavalariços, para que aqui
estivessem juntos neste dia demonstrando à Casa do Povo de Porto Alegre, o
apreço e o respeito que tem por esta Câmara, pois ela significa realmente o
povo de Porto Alegre, na sua verdadeira representatividade.
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, posto isto, peço permissão aos
senhores e às autoridades aqui presentes para, em breves palavras, retroceder
no tempo e mostrar a todos como chegamos ao Jockey Club do Rio Grande do Sul de
hoje, com oitenta anos de existência.
Ao apagar das luzes do século XIX, quando Porto Alegre, tinha ainda
limitadas proporções, funcionavam regularmente nada menos que quatro hipódromos
em nossa Cidade. Constituíam o denominado Hipódromo Porto-alegrense, ou seja, o
Boa Vista, localizado no bairro do Partenon, e à cuja testa se encontravam o
médico Ramiro Barcelos e o Cel. Pedro Jobim Ferreira Porto, filho de José
Ferreira Porto, o Veador Porto, o primeiro importador de reprodutores PSI para
o Estado. O Boa Vista foi o primeiro a promover corridas de cavalos na Capital.
Seguiu-se a construção do Prado Rio-Grandense, fundado por Luiz Manoel de
Azevedo, no Menino Deus, onde atualmente se acham instaladas dependências da
Secretaria da Agricultura. Havia também o hipódromo dos Navegantes, criado por
Germano Meisterling e outros, ocupando área dentro dos limites da atual Vila
Dona Teodora, e o da Independência, levantado na chácara pertencente à família
Mostardeiro.
Todos os hipódromos eram sociedades anônimas cujos interesses se
cingiam meramente aos lucros, despreocupando-se com as condições dos nossos
criadores e a melhoria do rebanho eqüino. Em conseqüência, criavam-se pontos de
atrito entre as Sociedades, aos poucos tendentes a desaparecerem do cenário
desportivo da Cidade. Restavam as que se mantinham na Independência, onde
funcionava o Derby Club, e no Prado Rio-Grandense, no Menino Deus, onde se
estabeleceu o chamado Turfe Club, de curta duração, sempre em confronto com o
Prado Boa Vista. Nos alvores deste século, surgiu a idéia de se fundir única
organização as entidades turfísticas então existentes na cidade. Um esportista
de estirpe, José Joaquim da Silva Azevedo, à testa de um grupo de amigos,
lançou a Associação Protetora do Turfe, cuja fundação se concretizou a 7 de
setembro de 1907. No começo de novembro do mesmo ano se desdobrou o primeiro
programa de corridas patrocinado pela novel entidade. De início, a Associação
Protetora do Turfe valia-se de dois hipódromos para a realização de suas
reuniões semanais: o da Independência e o do Menino Deus. Anos mais tarde,
concentrou as atividades hípicas no da Independência, que se tornou conhecido
como o prado dos Moinhos de Vento, cuja área foi adquirida da família
Mostardeiro em 1913.
Embora elementos de alta representatividade no meio social da cidade e
esportistas repartissem a responsabilidade pela administração da Associação
Protetora do Turfe, a Sociedade mergulhou em decadência, decorridos os
primeiros anos de fundação. Não houve, de início, quem aceitasse o encargo de
reorganizá-la e fazê-la retornar aos seus áureos tempos. Por indicação do então
Chefe de Polícia, Dr. Vasco Pinto Bandeira, turfista apaixonado, veio à baila o
nome do Cel. Antônio Pedro Caminha para reerguer a entidade que soçobrava. Com
pulso firme e reconhecida competência, o Cel. Caminha, deputado provincial e um
dos fundadores da Cia. Carris Porto-alegrense, pôs mãos à tarefa que lhe
confiavam e nela logrou pleno êxito. Reorganizou a Associação Protetora do
Turfe e consolidou sua estrutura, merecendo sua obra o aplauso e a admiração de
todos. Quando a morte o surpreendeu em 1914, então reconduzido pelo terceiro mandato
sucessivo na presidência da sociedade, sua diretoria deliberou logo
tributar-lhe justa homenagem colocando seu busto nos jardins do hipódromo
Moinhos de Vento. Transferido para o Cristal desde 1959, o busto do Cel.
Caminha relembra para quantos freqüentam o nosso campo de corridas, o real
significado do trabalho que desenvolveu, nos momentos de turbulência da
entidade, permitindo aos presidentes que o sucederam pudessem manter em ritmo
crescente a obra recuperadora encetada. Chegamos assim aos 80 anos de atividade
ininterrupta de uma entidade que vive em função dos cavalos de corridas, tão
apreciados pelos gaúchos, e que desde o início de dezembro de 1944 tomou a
denominação de Jockey Club do Rio Grande do Sul. Foi deliberação de assembléia
geral de associados, que entenderam adotar a nova denominação, por mais
adequada à época, em substituição à primitiva Associação Protetora do Turfe.
Esta, porém, não foi esquecida. Pelo contrário, é sempre rememorada por ocasião
do GP Protetora do Turfe, que esta semana mais uma vez se disputa no Cristal.
Cabe aqui mencionar que desde sua fundação através da Associação
Protetora do Turfe há oitenta anos atrás, passando pelo tradicional Prado dos
Moinhos de Vento até o belo Hipódromo do Cristal de hoje, inúmeros Grandes
Prêmios foram desdobrados, contando sempre com grande afluência popular. Entre
os Grandes Prêmios citamos o tradicional Protetora do Turfe e o Grande Prêmio
Bento Gonçalves - maior prova do nosso Calendário Turfístico - e mais
recentemente o Turfe Gaúcho e a Taça de Cristal, prêmios estes que mais ainda
motivam a criação do puro-sangue no nosso Estado.
Ao longo destes anos desfilaram grandes cavalos do Turfe Gaúcho,
nacional e internacional como Cravete, Major, Salomão, Estensoro, Vizcaino,
Corejada, Garve, Zirbo e outros que com suas atrações sensacionais marcaram
época nas tardes ensolaradas do Moinhos de Vento e mais recentemente no
Cristal.
O Jockey do Rio Grande do Sul é tudo isto! É espetáculo, é lazer, é
convívio social, entrelaçando amizade entre homens das mais diferentes camadas
sociais. Enfim, é um esporte apaixonante de multidões que durante o passar dos
anos permanece fiel ao seu esporte predileto.
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o Jockey Club do Rio Grande do Sul que
hoje V.Exas. homenageiam é grande, é forte, e luta hoje, entretanto, com
enormes dificuldades, como aliás de resto também enfrentam nossa Cidade, nosso
Estado e nosso País. Mas se por diversas ocasiões conseguimos e tivemos forças
para superar crises funcionais como as de hoje, temos certeza que continuaremos
a oferecer ao povo gaúcho, a empolgação e o entusiasmo que representam a
característica fundamental da corrida de cavalos.
Daqui a setenta e duas horas estaremos comemorando os oitenta anos de
nossa Sociedade. Tenho certeza que, quando completarmos nosso centenário já no
alvorecer do século XXI, esta cena tão significativa e marcante será novamente
efetivada, pois o Presidente do Jockey Club do Rio Grande do Sul de então e os
Vereadores da época estarão confraternizando, solidariamente como agora. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Sr. Presidente do Jockey
Club do Rio Grande do Sul; Dr. Alfredo Hofmeister; Dr. Armando Hofmeister,
Presidente da Associação Brasileira de Cavalos de Corrida; demais pessoas
ligadas ao Jockey Club do Rio Grande do Sul, creio que as Bancadas desta Casa
espelharam com absoluta fidelidade os sentimentos que cercam a Casa do Povo de
Porto Alegre sobre o Jockey Club do Rio Grande do Sul, a riqueza de detalhes
foi fruto, quero crer, do apreço geral que a instituição, a entidade que os
Senhores dirigem representa para Porto Alegre.
Quero, ao finalizar esta sessão, dizer que, “par i passo” com a cidade
de Porto Alegre, caminha o Jockey Clube aqui situado. Para nós é quase uma
medida, examinarmos a história, e a história do Jockey Club com a história de
Porto Alegre. Dizia há pouco ao Dr. Hofmeister, que quando o Jockey Club
realizava a sua mudança dos Moinhos de Vento para o Cristal muitos de nós nos
perdemos, e perdeu-se de certa forma a identidade da cidade de Porto Alegre. Se
por um lado foi uma conquista para o Jockey Club, sem dúvida o foi para aqueles
que são mais entendidos no assunto. Por outro lado, foi uma perda para a nossa
Cidade, eis que lá, no Moinhos de Vento, freqüentavam, não só os aficionados do
Jockey, propriamente dito, mas, também, era um ponto de encontro, sem dúvida,
muito grande para todos nós. Teríamos que acrescentar, em uma reflexão, que,
casualmente, é a Semana da Pátria, a Semana de Comemoração da Câmara Municipal
de Porto Alegre, de aniversário, para dizermos que, também, a história do
Jockey Club marca, exatamente, a nossa posição no cenário brasileiro, como
gaúchos. E que as dificuldades do Jockey Club todos nós conhecemos. São muito
parecidas, ou são simétricas no tempo, com as dificuldades do Rio Grande do
Sul. Com tudo isso, quero crer que o Jockey Club, com estas constatações, não
só faz parte e se insere na nossa Cidade, por isso todos esses afetos, que
traduzem, “pari passo”, os nossos dias, os nossos anos e, sobretudo, os nossos
tempos.
Peço aos senhores, como os demais pediram, que consigamos, como deseja
o Sr. Presidente do Jockey Club, Dr. Paulo, que consigamos chegar ao ano 2 mil
com a vitalidade que pautou sempre as atividades do Jockey Club de Porto Alegre
e do Rio Grande do Sul, que estão indelevelmente ligados. Por tudo isso
agradeço e repito o que todos os Srs. Vereadores disseram nesta Casa: que foi
uma honra tê-los aqui, pois V.Exas. representaram não só o presente do Jockey
Club, mas o passado tão evocado. Por último o nosso desejo de que cerque o
Jockey Clube as venturas dele, num futuro e no nosso próximo encontro, talvez,
do centenário do Jockey Club, como disse o Presidente para alguns e para outros
não, mas em todo o caso é um compromisso nosso com o futuro.
Agradeço a presença de todos os senhores. Muito obrigado.
Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 17h44min.)
* * * * *